Existo, Logo Encriseio
Por Thiago Damasceno
Náusea:
essa palavra estranha e elegante menciona bem o atual clima do país. Não há
Jean Paul Sartre que discordaria disso. Crise ou crises? Tanto faz, o pouco e o
muito, o implícito e o explícito, o bom e o mau, celestiais e satânicos, direita
e esquerda, feministas e machistas, marxistas e culturalistas... estão todos em
crise. Primeiro existimos, depois entramos em crise.
Falo da crise política, moral,
intelectual, etc. Toda essa bagunça no país invade o interior. Se o exterior
fica instável, o interior também. Quase entrei em depressão após aquele funesto
domingo em que a Câmara de Deputados votou pelo prosseguimento do impeachment. Concordando ou não com o
governo de Dilma Roussef, é fato que nosso corpo político-legislativo é,
predominantemente, sujo, burro, cretino, safado, bandido. Mau caráter.
Não citei o termo “crise econômica”. Será que
há mesmo essa dita cuja? E se houver, pra quem há? Quando os bancos lucram
milhões a menos, mas ainda lucram milhões, será que estarão mesmo em crise
econômica? E nós, habitantes da galáxia classe média, e os habitantes do
buraco-negro classe baixa (de onde não se sai), estamos de fato em crise
econômica?
Primeiro o Ser existe e só depois se
define, se inventa, se reinventa, e nesse processo contínuo sempre há crises.
Podemos jogar todas no saco das “crises existenciais”. Viver é isso: nascer e
morrer a cada dia, e renascer; comprar em demasia, correr o risco de dever além
do valor do salário; se perguntar onde, quando e para quê; votar em bandido;
ter medo da polícia e ligar pra ela nos momentos de desespero, ler Nietzsche e
ler a Bíblia; ser preconceituoso e sofrer preconceitos, ser macho e ser fêmea, crer
na ciência e crer na Astrologia, ser consciente e ser inconsciente, tantos
seres em uma só relação de amor e ódio entre corpo e mente.
Enfim, existo, logo encriseio.