Sobre Amores e Livros
Por Thiago Damasceno
No
silêncio do meu quarto, abro a porta do armário e me deparo com várias
coisinhas preciosas que ela me deu. Engraçado e bizarro como as coisas – meros pedaços
de matéria – podem engatilhar nossa memória, nos fazendo lembrar momentos
imateriais, nos fazendo viajar sem pagar pedágio, sem sinalizações ou limites
de velocidade. São momentos imateriais porque não existem mais em carne e osso
no presente, apenas no passado.
Cheiros, toques, sabores, frases e
gestos, um mundo privado a dois são exalados pelos livros recebidos como
presente. Quanto carinho e cuidado ao escolhê-los... Quanta atenção que não
existe mais... Quase tudo perdido num jogo de tramas e dramas, desentendimentos
e emoções à flor da pele. Tudo dissolvido como se o deus do Caos soprasse sobre
uma cidadela de areia. E lá, lá dentro do armário, permanecem os livros intactos,
alheios ao presente, à espreita, prontos para fuzilar o Esquecimento. São verdadeiros
guardiões da Memória. Até que “disparo
balas de canhão, mas é inútil, pois existe um grão-vizir”.
Confidenciado isso a uma amiga, e
mencionando como um dos livros meu romance preferido, ela disse:
-
Ou joga essas coisas fora ou joga esse amor fora.
Respondi inspirado por uma sabedoria
milenar soprada por vozes de Macondo:
-
Tá doida, é?! Não se joga fora Cem Anos
de Solidão!