Cenas
de Fim de Ano
Por
Thiago Damasceno
Entre
o recebimento de um troco e uma olhada rápida na prateleira de livros na
calçada, uma série de pensamentos podem passar pela nossa mente, desde as
contas pendentes à questão fundamental da metafísica: “Por que há alguma coisa ao invés de nada?”. Avistei o livro Cenas de Nova York & Outras Viagens
do grande louco Jack Kerouac e me lembrei de uma porrada de coisas, tudo
conectado ao que senti quando pisei em Goiânia no agradável fim de tarde de 12
de dezembro.
Desci na Praça Cívica e logo me
lembrei dos tempos em que morava aqui, cursando História e procurando algum
evento interessante pela cidade nos finais de semana. Posteriormente, no fim do
curso, e já empregado, o tempo e o prazo de entrega das coisas ficaram mais
apertados, mas no fim deu tudo certo. Após tanta correria, angústias de
escolhas, dores de futuro, enfornamentos em casa, amizades, filmes, livros,
debates acadêmicos e filosofias de botecos, restou a saudade daquele tempo, de
ser jovem universitário. Mas o passado é uma sombra. Está sempre em algum
lugar.
Saindo da Praça Cívica encontrei na
Avenida Goiás um amigo da Filosofia. Vamos chama-lo aqui de Nietzsche da Silva,
com a certeza de que ele iria odiar isso. O termo “dor do futuro” é dele. Faz
menção às angústias que sentimos das escolhas no presente devido às suas várias
e possíveis consequências. A condição humana seria mesmo sofrer por antecipação?
Alguma corrente filosófica ou religião, ocidental, oriental ou central poderiam
ajudar? Ou, como cantaria Belchior, “Eu
não estou interessado em nenhuma teoria, nem nessas coisas do Oriente, romances
astrais, a minha alucinação é suportar o dia a dia, meu delírio é experiência
com coisas reais... Amar e mudar as coisas me interessa mais...”.
E até quando podemos amar e mudar as
coisas? Mas concordo plenamente com a ideia de que escolhas e movimentos do
cotidiano já são uma baita alucinação.
Naquela conversa profunda sobre o
nada acerca do tudo (típica conversa do pessoal de Humanas), havia um sujeito
estranho por perto, tentando ouvir a conversa sem ser reparado. Quando ele teve
coragem de nos abordar, disse que percebeu que éramos professores e perguntou
se queríamos dar aulas pra um grupo de escoteiros. Coisa de doido! Coisa de
doido por ser tudo meio assim... de supetão.
O sujeito até nos ensinou o aperto
de mão dos escoteiros e até se saiu bem com as investidas bem humoradas de Nietzsche
da Silva, que ficou indignado quando descobriu que o sujeito não sabia nadar. “Como assim um escoteiro não sabe nadar?!”.
“Mas cada um tem sua função. Eu trabalho
com comunicações e rádio” – respondeu nosso sujeito. “Ah sim, é tudo bem especializado que nem a indústria
burgueso-capitalista” – completei, em tom de chacota.
Nietzsche da Silva realmente dá – ou
melhor, vende, e por um preço baixo – suas aulas. Eu só tenho a formação em
licenciatura. Mas ambos recusamos o Chamado à Aventura do arauto dos escoteiros.
Ficou pra outro dia ensinar tudo que queremos aprender.
E no meio daquela bagaceira urbana, me
vi em meio a um turbilhão de pessoas andando de um lado pro outro, furando o
sinal, esperando ônibus, correndo, vendendo e comprando, fazendo tudo
desesperadamente, como se aquilo tudo que fizessem fossem salvar suas vidas e o
mundo. Mas o mundo estava alheio a nós, girando em desacordo com a nossa
vontade, pouco se importando com os votos artificiais de “Feliz Natal!” e “Um
Próspero Ano Novo!”.
Então me caiu a ficha que o Natal já
estava chegando junto com o Ano Novo e o Especial de Fim de Ano do Roberto Carlos.
Mais do Mesmo + Coisas Inéditas vindas com o rastro de 2015.
Foi um ano importante como nunca
este 2014. Foi um ano de mais uma Jornada do Herói, de sair do aconchego de
casa e se lançar rumo a outros mundos, conhecendo diversos arquétipos. E como
se não bastasse, “Você nem sente nem vê,
mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai
acontecer”. Nada é permanente.
Muito obrigado a todas as leitoras e
leitores pela atenção e carinho. Ano que vem, estaremos novamente em contato
por meio destas páginas virtuais ou, quem sabe, por meio de um desses encontros
casuais na rua.
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