Pelas
Ruas Que Andei
Crônicas Sociais
II
Antes
de iniciar esta crônica, algumas considerações...
Publico-a mais de um mês depois dos
seus acontecimentos narrados por motivos simples. O primeiro é que as informações
principais da crônica estão relacionadas à passeata pela UEG feita no dia 16 de
maio. No mesmo dia também houve uma manifestação contra o aumento da passagem do
transporte coletivo. Ao escrever o texto, tentei destacar igualmente os dois
protestos e acabei me embananando com o tamanho que a crônica adquiriu mais a
necessidade de ter informações seguras e atualizadas. O segundo motivo foi a
motivação que me veio com os protestos simultâneos no país, ocorridos em São
Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte em 17 de junho. Vendo tais movimentos,
editei a crônica.
De fato, o pontapé inicial desses
protestos foram os aumentos das passagens dos ônibus urbanos em todo o país.
Com a festividade da Copa das Confederações e outros futuros eventos esportivos
que sediaremos mais nossos clássicos problemas em setores públicos, as
manifestações cresceram e têm várias reivindicações, mas apesar dessa
heterogeneidade, mostram uma coisa, por mais óbvia que seja: O brasileiro é
insatisfeito com seus (ou quem deveria ser seus) representantes políticos.
A crônica seguinte é sobre parte dessa
insatisfação. Admito que após essa passeata, minha participação no movimento da
greve tem sido praticamente nula. Logo, para mais informações (e muitas mesmo)
recomendo o acesso ao blog http://movimentomobilizaueg.blogspot.com.br,
pois muitas coisas aconteceram desde essa passeata, incluindo bloqueio de
rodovias a prisão de estudantes.
Passeata
Pela UEG (16/05/13)
Por Thiago Damasceno,
nordestinamente de
Goiânia, um pouco depois do calor dos acontecimentos
“Hoje
eu acordei com sono e sem vontade de acordar”. Eu e uma galera acordamos assim hoje,
como canta Cazuza em Bilhetinho Azul.
Contudo, vencemos a clássica preguiça matinal e demos as caras nas ruas pra
participar de mais um ato pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) durante sua
greve. O ato foi, nada mais nada menos, caminhar em protesto do Terminal Padre
Pelágio até a Praça Cívica, centro administrativo da capital e do estado. Pra
quem não conhece, uns 10 km de sebo nas canelas. Pra quem conhece um “Sol
arregalado”, como diz minha mãe, 10 km caminhados sob um Sol arregalado.
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Foto: Gilberto Aquino
Umas
oito e meia da manhã desci do meu prédio e fui pegar o Eixão até a o Terminal
Padre Pelágio. Na Avenida Anhanguera, por onde transita o Eixão, quase
encontrei mais uma manifestação contra o aumento da passagem do transporte coletivo,
tema de uma crônica anterior. Essa passeata há alguns metros de onde eu estava,
também feita majoritariamente por estudantes, perturbou o trânsito, mas os
Eixos encontraram outros caminhos e após alguns minutos de espera, embarquei
rumo ao Terminal Padre Pelágio.
Cheguei ao Terminal e após um
alongamento dirigido pelos acadêmicos de Educação Física, partimos pra nossa
ensolarada caminhada. Estavam presentes estudantes, professores e técnicos
administrativos de várias unidades da UEG e várias cidades: Goiânia, Anápolis,
Porangatu, Cidade de Goiás, etc. Há 22 dias de greve, reivindicamos,
basicamente, investimentos do estado na Educação Superior, especificadamente 5%
do PIB de Goiás pra área.
Por meio do carro de som, gritos e
panfletos, lembramos à população da região noroeste de Goiânia (setor onde está
o Termina Padre Pelágio) que o governador Marconi Perillo prometeu a criação de
uma unidade da UEG na região. Mas desde que foi criada, em 1999, a UEG e suas
unidades vêm crescendo em quantidade, mas não recebem recursos suficientes, o
que prejudica suas qualidades. Na unidade em que estudo, em Anápolis, o prédio
está em risco de desabamento. Na outra unidade de Anápolis, falta mais água
tratada do que em um campo de refugiados palestinos. Sem contar na geral falta
de professores em alguns cursos, de materiais de limpeza, etc. Logo, a criação
de mais unidades enquanto outras se prejudicam, é uma criação irresponsável.
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Parte da população vê os manifestantes
como marginais e desocupados. Isso deve vir do medo e vergonha do brasileiro de
ir à rua exercer um direito seu, que é o de protestar. O brasileiro, em seu
tolo orgulho, espera alguém fazer algo por ele ou simplesmente espera por Deus.
Outra parte da população nos apóia e no caso dessa caminhada, até aplaudiu. A
situação chegou a um ponto em que as ações do governo e de suas empresas
parceiras afetam a todos os estudantes e trabalhadores da classe média pra
baixo, como no caso do aumento da passagem do transporte coletivo.
Durante a caminhada, distribuí
panfletos e foi engraçado ver as reações de algumas pessoas ao receber os
papéis informativos. A maioria os recebe de bom grado, se os lê, não sei. Uma
minoria não recebe. Uma senhora cruzou os braços pra mim e se afastou com cara
de nojo. Outro disse: “Não, quero mexer com isso não!”. Quem vê assim, até
pensa que o chamei pra liderar a greve...
No momento da passeata ouvimos que houve
conflito entre a polícia e os manifestantes contra o aumento da tarifa dos
ônibus no Terminal Praça A, que estava no caminho de nossa passeata. Os
manifestantes na Praça A tocaram fogo em pneus e bloquearam o acesso ao
terminal, logo, a polícia militar e mais tarde, o Batalhão de Choque e as
chamadas “bombas de efeito moral”, apareceram, aumentando a violência da área.
Segundo o comandante da operação, a polícia tentava manter a segurança do
patrimônio público. Contudo, a polícia cuspiu violência pra quem estava no
local, estando relacionado ou não com a manifestação, seja humanos vindo da
Cidade de Gondor ou hobbits vindo do Condado. Um garoto que esperava um ônibus levou
cacetadas e uma garota teve seu celular quebrado. O caso levou até a
procedimentos administrativos na PM, mas fiquei sabendo isso apenas à noite
pelo telejornal.
Assistindo ao jornal me assustei ao
ver um policial socando um amigo da Filosofia no rosto simplesmente quando o
estudante foi falar com ele. Não é preciso informar seu nome, mas acho que
naquele momento, todo estudante ou jovem se sentiu representado e se
sensibilizou ao ver o manifestante sendo esbofeteado. O estudante me informou
que apenas pediu a bandeira ao policial e foi agredido. Vejam abaixo a foto e o
vídeo dessa manifestação.
A reação da polícia foi ambígua. Na
nossa passeata, a polícia militar e os guardas de trânsito contribuíram para a
passividade e para o andamento do protesto, chegando até a reprimir motoristas
malandros que tentaram furar o nosso bloqueio nas ruas. Procuravam manter a
ordem, mas a busca insana por essa ordem foi lamentável no outro protesto.
Sabendo da situação na Praça A,
contornamos o local do conflito. Minutos depois, alguns remanescentes da outra
manifestação se juntaram a nós. Alguns punks,
anarquistas pós-modernos ou algo do tipo estavam
com o rosto vendado e segurando cabos de vassoura. Vi de perto um policial
reprimir verbalmente quatro sujeitos com os cabos. Na hora, pensei: “Vixi,
Maria, é agora, Diabo!”, mas foi mais minha tensão exageradamente insana (ou
não).
Fiquei na manifestação até o início da
ocupação na Praça Cívica, em frente ao palácio Pedro Ludovico Teixeira, como
visto na foto acima. Na ocasião, pedia-se a presença do governador perante a
Comissão de Greve. Uma possibilidade até longínqua, pois é melhor dar as caras
em propagandas eleitorais.
P.
S: No fim do dia,
encontrei esse post na página do
Facebook UEG DENÚNCIA:
UEG marca presença na
Assembleia Legislativa de Goiânia, onde pede posicionamento quanto ao movimento
estudantil. Deputados votam e é aprovado que o Marconi deva receber a comissão
de negociação da UEG!! Nossa LUTA está cada vez mais forte!!
Vem pra LUTA você também!!!
Mais informações: