ThiagoDamasceno: setembro 2015

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Resenha Literária: A Batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr

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A Batalha do Apocalipse
Da Queda dos Anjos ao Crepúsculo do Mundo

Por Thiago Damasceno

A batalha final do Universo se aproxima. As hostes celestiais lutarão uma última vez antes do despertar do Altíssimo. A humanidade, com suas próprias guerras, também caminha para o fim. No meio da linha de fogo está Ablon, o Anjo Renegado. Expulso do Céu após liderar uma revolta contra o autoritário arcanjo Miguel, o Renegado se vê como peça chave na política do mundo espiritual.

            Essa poderia ser uma premissa do livro de fantasia A Batalha do Apocalipse: Da Queda dos Anjos ao Crepúsculo do Mundo do jornalista, blogueiro, escritor, roteirista e nerd carioca Eduardo Spohr. 

Capa do Livro

         Em 572 páginas de prosa Spohr nos apresenta um universo ficcional que une o nosso mundo cotidiano – o mundo material – ao mundo espiritual, composto por dimensões como o Inferno, Paraíso, dimensão etérea, reino das fadas dentre outras de diversas mitologias.

Nascido em 1976 e sendo um nerd desde cedo, tendo viajado pelo mundo com seus pais, se formado em Comunicação Social e trabalhado como jornalista, Spohr escreve bem e mescla com maestria elementos de vários campos da cultura esotérica e popular, criando assim um universo rico, coerente e divertido. Como se diz no Nerdcast 80: O Apocalipse, o livro de Spohr não é uma mera farofa. Suas influências vão desde as mitologias grega e nórdica a obras como Highlander, Anjos Rebeldes (ambos filmes criados e roteirizados por Gregory Widen), animes como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco e filmes como os westerns de Clint Eastwood em que este encarna a figura do “pistoleiro solitário”. Apesar da miscelânea de referências, a ficção de Spohr não é uma mistureba sem sentido. A Batalha do Apocalipse estranhou – e ainda estranha - alguns leitores, mas a meu ver tudo fica nos eixos e tem sua identidade, bastando para isso abrir a mente e aceitar que sim, há escritores nacionais no gênero fantasia e ficção científica.

Fiz menção de denominar a obra como “ficção” para deixar isso bem claro a pessoas que possam levar o enredo do livro demasiado a sério – para o bem ou para o mal – devido às suas escolhas religiosas e eclesiásticas. A Batalha do Apocalipse, como o próprio nome denuncia, tem como foco a mitologia hebraico-cristã, expressa no Antigo e no Novo Testamento, mas outras visões religiosas são abordadas na obra. Há outros deuses e criaturas. Jeová - ou Yahweh - é apenas mais um, e o que saiu vitorioso das batalhas cósmicas. Essa abordagem é adequada para uma obra sobre o fim do Universo, temática que abarca outras concepções mitológicas e religiosas.  

Vamos conhecer essa ficção sobre o fim do mundo mais a fundo. Primeiramente farei um resumo do Universo da obra e de sua trama. Em seguida, comentarei alguns aspectos literários, elogiando sua narrativa mítica e épica, mas fazendo “vista grossa” à técnica narrativa no que concerne aos seus pontos de vistas e aos diálogos. Por fim, apresentarei um pouco sobre a história de criação e publicação do romance, um marco da cultura nerd e da atualmente chamada “literatura fantástica brasileira”. 

Eduardo Spohr
O Universo de A Batalha do Apocalipse

Das Batalhas Primevas ao Armagedon

            Nos primeiros tempos da existência do cosmos o deus Yahweh, da província da Luz, entrou em conflito com as entidades da província das Trevas, lideradas pela deusa Tehom. Para auxiliá-lo, Yahweh criou os cinco arcanjos: Miguel, Gabriel, Uziel, Rafael e Lúcifer. Juntos, os seis venceram as entidades das trevas e Yahweh reinou absoluto no Universo, principiando suas criações. Assim terminaram as chamadas Batalhas Primevas.

            No Sexto Dia de criação - que para a noção de tempo do Homem corresponde a milhões de anos – Yahweh criou a humanidade, dotada de alma imortal e livre arbítrio, diferente dos anjos, com almas mortais e sem livre arbítrio. Satisfeito com tudo que fez, inclusive com sua criação favorita, o Homem, o Altíssimo adormeceu e deixou o comando do Céu com o arcanjo primogênito, Miguel.

            Quando a Roda do Tempo - artefato criado por Yahweh para marcar a sucessão das eras - concluir seu ciclo, o mundo espiritual e o mundo material se unirão em um só, a Batalha do Armagedon se iniciará e o Altíssimo despertará para punir os injustos e coroar os justos. Assim afirma o Manuscrito Sagrado dos Malakins, casta angélica considerada a mais sábia e conhecedora dos segredos do Cosmos.

            No contexto do tempo presente de A Batalha do Apocalipse, o crepúsculo do Sétimo Dia se aproxima e os atores do Céu, da Terra e do Inferno se movem para a batalha final. 


A Ira dos Arcanjos

            Sentindo inveja e ciúme dos humanos, o arcanjo Miguel inicia uma série de ataques à Haled, denominação dada ao mundo dos homens. Nessas investidas, alguns anjos se destacam, dentre os quais Apollyon, o Anjo Destruidor, inimigo mortal de Ablon. Ambos pertencem à casta dos querubins, casta dos anjos guerreiros, e comandam legiões. 

            Outras cruéis investidas contra os humanos foram a destruição de Sodoma e Gomorra - pelas mãos de Apollyon - e o Dilúvio, por meio dos poderes dos ishins, casta angélica que comanda as forças da natureza. Um ishin envolvido diretamente no dilúvio foi Amael, o Senhor dos Vulcões, que carregou o arrependimento por toda sua vida.

            O dilúvio extinguiu as maiores civilizações dos primórdios da humanidade, que foram Enoque, a Bela Gigante, e Atlântida, a Pérola do Mar, chefiada por Órion, anjo amigo de Ablon. A dupla fraternal viveu em Atlântida nos seus tempos de glória, quando Órion criou uma civilização pacífica e desenvolvida, livre dos males e da violência. Os dois anjos levam nos seus semblantes a nostalgia daquele belo passado remoto. 

Ablon vs Apollyon

Os 18 Renegados & A Queda de Lúcifer

            Revoltado contra as arbitrariedades violentas de Miguel, Ablon incitou 17 anjos de sua confiança a se rebelarem contra os arcanjos. Ciente de que os arcanjos são invencíveis em poder, os revoltosos se uniram a um poderoso que mostrou certo desagradado com as atitudes de Miguel. Uniram-se a Lúcifer, a Estrela do Manhã. Porém, na assemble angélica em que se discutia a destruição de Sodoma e Gomorra, Lúcifer denunciou a conjuração de Ablon e Miguel condenou os 18 à Haled.

            Essa renegação significou que nenhum dos 18 poderia voltar ao mundo espiritual. Não poderiam atravessar o tecido da realidade.

            O mundo material e o mundo espiritual são separados por meio de uma membrana mística invisível, o chamado tecido da realidade. Essa membrana é criada pela consciência coletiva humana. Ou seja, a medida que os homens desenvolveram a ciência e o racionalismo, distanciando-se das práticas religiosas primitivas, o tecido da realidade se engrossou e o mundo espiritual revelou-se cada vez menos aos homens. Apenas os sensitivos e magos mais poderosos continuaram a ver e interagir com os seres e elementos das dimensões do mundo espiritual.

            Os anjos, ao irem para a Haled, encarnam em avatares, corpos físicos de aparências semelhantes aos seus corpos no mundo espiritual. Esses corpos, apesar de serem mais fortes e rápidos e terem asas, podem ser abatidos. Para acabar de vez com o avatar e a alma de um anjo, basta arrancar seu coração.

            Os 18 renegados ficaram para sempre presos em seus avatares, tendo que aprender a viver como homens e, enquanto se adaptavam à vida na Haled, Lúcifer ganhou prestígio junto a Miguel e usou disso para arquitetar sua própria conjuração, desejando vencer o irmão Miguel e coroar-se ele mesmo deus em Tsafon, o Monte da Congregação. Para isso, o arcanjo reuniu um terço dos anjos contra seu irmão, mas perdeu a peleja, sendo expulso para o Inferno.

            Enraivecido, Lúcifer passou a culpar os renegados e enviou demônios à Haled para caçá-los, sendo que Miguel também já enviava seus agentes para aterrorizar a vida dos 18. Com o tempo, eles foram sendo derrotados, principalmente pelas mãos de Apollyon, e Ablon se tornou o Último Renegado.

O Crepúsculo do Sétimo Dia

            A trama de A Batalha do Apocalipse começa, no tempo presente, com o encontro de Órion e Ablon no topo da estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, cidade escolhida por Ablon para viver por pertencer a um país neutro perante os conflitos militares, econômicos e políticos mundiais, realizados por dois grupos, a Liga de Berlim (EUA, Japão e Europa Ocidental) contra a Aliança Oriental (Rússia, China e Coréia do Norte).

            Órion exerce a função de Arauto - arquétipo do mensageiro – que leva uma mensagem ou missão para o Herói, arquétipo encarnado na estória por Ablon. A mensagem é nada mais, nada menos que uma visita ao Inferno: Lúcifer deseja falar com o Anjo Renegado. Este aceita se encontrar com Lúcifer, mas não sem antes se proteger com a ajuda de Shamira, uma bela feiticeira que ele conheceu na Antiguidade, nos tempos de poderio de Babel na Mesopotâmia. O casal se encontrou em tempos importantes da história da civilização como na queda de Babel, no auge de Roma, na Idade Média e na conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453. Utilizando a força de espíritos negros, Shamira conseguiu manter sua juventude por séculos a fio, tudo com o intuito de um dia poder viver pacificamente com seu amado Ablon.

            O contratempo para a consumação do amor entre os dois é o rapto de Shamira pelas mãos do Anjo Negro ou Anjo do Abismo Sem Fundo, um misterioso agente de Miguel.

            Enquanto a Batalha do Armagedon se aproxima, Ablon precisa decidir se alia-se ou não com Lúcifer para enfrentar Miguel e encontrar um jeito para entrar no mundo espiritual e liderar os anjos contra o arcanjo primogênito, obtendo assim justiça e salvando sua amada. No caminho, nosso Herói enfrenta vitórias e derrotas e encontra inimigos e aliados.

Ablon
        Por falar no enredo, aproveito para registrar que minha parte favorita do livro é o ataque de Ablon a Babel para salvar Ishtar. É uma verdadeira cena épica com um andarilho encapuzado no deserto, um rei louco, um exército bem armado e uma cidade lendária, com uma construção icônica como a Torre de Babel. Essa passagem ficaria exuberante em um filme.

Também adorei o final do livro, resolvendo tudo, sem deixar pontas soltas e a trazer de volta pistas e soluções que o leitor esquece no decorrer da narrativa, mas que sempre estiveram lá. As consequências do conflito apocalíptico fecham com maestria o início da estória, dando a ela um tom mítico.  

Aspectos Literários

A Batalha do Apocalipse: Um Épico

            Eduardo Spohr optou por um narrador que faz uso de um discurso épico, opção adequada para uma estória sobre a trajetória milenar de Ablon, abarcando desde os primórdios da vida humana na Terra até o início dos anos 2000, contexto do fim do Sétimo Dia.
            Ablon encarna o Herói padrão. É honrado, corajoso, valoroso e defensor da justiça. Na vez em que perdeu a cabeça, nos tempos humanos da Idade Média, decidiu enfrentar Lúcifer no Inferno e foi mal, sendo preso por 200 anos e condenado à morte. Foi salvo graças à Órion, seu amigo fiel e Lilith, demônia que vivia em meio ao luxo e prazer. A relação entre Ablon e Órion é de confiança total, semelhante a de Dom Quixote e Sancho Pança e muitos outros. É a relação chamada “Amor de Companheiro”. A relação breve entre Ablon e Lilith remete ao amor proibido, do mito de Orpheu. Essa relação mitológica também perpassa a vivência entre Ablon e Shamira, sendo notável o esforço desta para acompanhar seu amado pelo passar dos séculos.

            Miguel é o vilão principal, encarnado o arquétipo Sombra, cujos valores representam a energia do lado escuro São valores opostos aos do Herói. Lúcifer encarna predominantemente – pois também é uma Sombra – o arquétipo Camaleão, um ser mutável, que dissimula. Como ele mesmo e o ditado popular afirmam: “O Diabo tem muitas faces”.
            Sendo um épico, A Batalha do Apocalipse inicia com o Manuscrito Sagrado dos Malakins referindo-se a um tempo mitológico, ou seja, a um pseudotempo, muito distante e remoto, que vai além da nossa forma matemática de contar as eras (BORGES, 1986): “Há muitos e muitos anos, há tantos anos quanto o número de estrelas no céu, o paraíso celeste foi palco de um terrível levante” (SPOHR, 2014, p. 9). Nossa mente não pode contar com precisão esse tempo e, no final, ele se mostra ainda mais mitológico.

Narração

             O narrador da ficção escatológica é onisciente e seu foco ou pessoa narrativa é a terceira pessoa do singular, com traços de impessoalidade. Farei “vista grossa” à questão técnica do ponto de vista, que é a perspectiva a partir da qual se conta a estória.

O ponto de vista predominante em A Batalha do Apocalipse é o do seu protagonista, Ablon, mas esse ponto de vista sempre é transferido para outros personagens durante as cenas. Por exemplo, em determinada luta sabemos o que Ablon vê e pensa, e linhas depois ficamos sabendo o mesmo do seu oponente. Como David Lodge (2011) afirma em seus artigos sobre a escrita de ficção, mudanças de pontos de vista não são proibidas, são feitas segundo as escolhas do autor, mas uma consistência mal organizada desse aspecto técnico não contribui para a formação de sentido da obra, formação feita com a leitura.

Claro, não há regras nem leis determinando que um romance não possa mudar de ponto de vista quando o autor bem entender; mas se essa decisão não for tomada de acordo com algum plano ou princípio estético, o envolvimento do leitor, o processo em que o sentido do texto se produz, será perturbado. (LODGE, 2011, p. 38).

            Outra questão que surge nessa mudança inconsistente de pontos de vistas é: por que temos conhecimento do que um personagem sente, vê e ouve em certo momento e em outro não?

            Como dito, tratando-se de criação, não há regras. Mas particularmente, prefiro pontos de vistas mais consistentes, porém, as mudanças inconsistentes do ponto de vista de A Batalha do Apocalipse não atrapalharam meu envolvimento com a estória, como alerta o crítico e escritor David Lodge. Muito pelo contrário: o enredo em si já capta e mantém a atenção de qualquer nerd ou aficionado pelas temáticas do livro.   

            Outro ponto que quero destacar são os diálogos. Alguns amigos confessaram-me que não acharam as falas convincentes, que as pessoas no dia a dia não falam daquele modo, etc. De fato, os personagens falam em um tom formal, mas acho esse tom consistente com a trajetória dos mesmos porque eles viveram muitos anos e são sábios. São anjos, demônios, magos e bruxas. O que não achei convincente foram algumas sentenças em que há diálogos que explicam demais ou mencionam o que o leitor já sabe sobre a estória, como o que Ablon diz a Órion:

“- Eu sou um anjo renegado, o último ainda vivo. Estou condenado a viver neste mundo físico. Não posso mais cruzar o tecido da realidade como vocês. Mas não é preciso ser muito esperto para notar que o Armagedon se aproxima” (SPOHR, 2014, p. 21).

            É estranho um personagem falar de tal modo sobre si mesmo, ainda mais para um amigo que o conhece há tempos. Sem contar que, tecnicamente, esse breve resumo sobre o personagem cabe perfeitamente à voz do narrador ou à voz de um personagem explicando a um terceiro.

            Por falar em personagens, creio serem válidas algumas considerações.

            Dos personagens mais ativos de A Batalha do Apocalipse, apenas uma é genuinamente humana: Shamira, a Feiticeira de En-Dor.  Nem por isso a empatia deixa de ser feita, pois os demais personagens, principalmente Ablon e Órion criam uma forte empatia devido aos seus valores humanos.

            Parece-me que, com exceção de Lúcifer, todos os personagens da obra são simples ou planos, pois suas caracterizações são feitas de forma rápida e direta e seus atributos permanecem, tornando-os personagens previsíveis. No caso dos anjos e demônios, pelas suas próprias naturezas, é normal que permaneçam sempre os mesmos. Já Shamira... creio que poderia ser mais bem trabalhada. É uma humana muito bonita e inteligente que passa todas as eras apaixonada por uma criatura apenas, Ablon! Mas ela exerce bem sua função de “princesa a ser resgatada pelo mocinho”, já que é raptada por Miguel, assim como a figura mitológica da princesa Andrômeda, prisioneira do monstro Kraken e a à espera de seu herói, Perseu.

            Lúcifer aparenta ser um personagem mais complexo, pois têm motivações contra os humanos ao mesmo tempo em que parece ter saudade dos dias em que viveu junto ao Criador. Ou tudo isso pode ser mera dissimulação sua. O que se passa em sua mente não é claro. Sendo o Príncipe das Trevas, tudo se pode esperar dele. Talvez o fato de ele ser um personagem mais trabalhado venha da variada quantidade de fontes sobre essa sinistra figura religiosa e mitológica, fontes que influenciaram a criação de Spohr.

           Ablon tem muito dos personagens Conan MacCleod, Goku, Seya e do tipo “pistoleiro solitário” de Clint Eastwood. Com ele, ocorre o mesmo que

ocorre com personagens centrais de narrativas de consumo de massa como por exemplo, nos filmes em série de televisão: os traços do herói já são conhecido e, em cada novo filme, ele vai confirmar os mesmos traços. Assim, ele sempre aparecerá em situações que confirmarão o fato de ele ser “corajoso”, “justo”, etc. – um comportamento previsível. (JUNIOR, 1995, p. 20).

            Apesar de ser um personagem simples, a trajetória de Ablon não é coroada apenas por vitórias, mas também por derrotas e obstáculos.

Mais um aspecto técnico que destaco no livro são seus capítulos e ganchos. A organização dos capítulos e seus ganchos – indo entre o passado e o presente, com Ablon tendo flashbacks – são excelentes. A leitura de A Batalha do Apocalipse é viciante. Como interromper a leitura após ler algo como o trecho a seguir?

Determinado, decidiu que, desta vez, entraria em Jerusalém e não retrocederia de novo.
Por um segundo, o Primeiro General fechou os olhos e, em um único instante recordou-se daquela que, provavelmente, fora a mais célebre de suas aventuras. (SPOHR, 2014, p. 204).
           
            Outra questão, não puramente literária, é o tratamento dado à Idade Média (século V ao XV). Sendo formado em História, atentei à abordagem dada àquele período, considerado nefasto. “Aconteceu naqueles dias sombrios, durante a chamada Idade das Trevas. Tempos sangrentos eram aqueles...” (SPOHR, 2014, p. 383).

            A ideia de Idade Média como Idade das Trevas é um mito criado pelos eruditos modernos para justificarem seu próprio tempo, visto como progressista e racional, em contraste com os tempos medievais, tempos com avanços e retrocessos como quaisquer outros. Quem divulgou essa ideia de Idade Média como um período sombrio foi o pedagogo alemão Christoph Keller (1638-1707), em latim Cellarius, mas claro que, sendo uma obra de ficção e entretenimento, A Batalha do Apocalipse não precisa discutir a fundo essa questão.

Criação e Publicação de A Batalha do Apocalipse

            O romance de Eduardo Spohr foi publicado pela primeira vez – com tiragem de 100 cópias - com sua vitória no II Concurso Literário do Fábrica de Livros do Senai-RJ. Essas tiragens foram vendidas no site Jovem Nerd, de forma independente. Ao fim das 100 cópias, leitores pediram mais, desejo atendido quando Spohr e os demais membros do site imprimiram mais cópias. Essa “etapa” da obra passou por várias reimpressões, atendendo a uma demanda sempre crescente, vendendo mais de 4 mil exemplares entre 2007 e 2009.

Em 2010 A Batalha do Apocalipse foi publicada pela Verus, vendendo mais de 400 mil exemplares desde seu lançamento. Outras obras do autor lançadas pela mesma editora foram Protocolo Bluehand: Alienígenas (2011) e a Trilogia Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida (2011), Anjos da Morte (2013) e Paraíso Perdido (2015). Este último foi lançado há poucos dias.

Ainda segundo o site oficial do escritor, Spohr foi premiado em 2012 pela Fundação Luso-Brasileira na categoria “revelação”. Seus livros foram publicados na Holanda, Alemanha e Portugal, com direitos de suas obras sendo vendidos para a Turquia.

A ampulheta do Tempo não cessa e por isso devemos esperar mais obras de aventura e ação desse autor. 


Referências

A Batalha do Apocalipse (Site Oficial). Sobre o Autor. Disponível em http://www.abatalhadoapocalipse.com/. Acesso em 16/09/2015.

BORGES, Vavy Pacheco. O Que é História. São Paulo: Brasiliense, 9ª edição, 1986.

Jovem Nerd (Site Oficial). Nerdcast n° 80: A Batalha do Apocalipse. Disponível em http://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-80-a-batalha-do-apocalipse/. Acesso em 30/08/15.

JUNIOR, Benjamin Abdala. Introdução à Análise da Narrativa. São Paulo: Scipione, 1995.

LODGE, David. A Arte da Ficção. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011.

SPOHR, Eduardo. A Batalha do Apocalipse: Da Queda dos Anjos ao Crepúsculo do Mundo. Campinas, SP: Verus, 57ª edição, 2014.

VOGLER, Christopher. A Jornada do Escritor: Estruturas Míticas Para Contadores de Histórias e Roteiristas. Rio de Janeiro: Ampersand Ed., 1997. 


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