ThiagoDamasceno: dezembro 2011

sábado, 31 de dezembro de 2011

Um Dia Como Hoje 03: O Diário de Um Duo Chamado VIAJANTE CLANDESTINO

VIAJANTE CLANDESTINO: O
Terceiro Dia de Gravação de Clipes & Músicas

Por Thiago Damasceno

Brasília-DF, quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

“Acabou-se: É o começo de tudo.”
(Frase dita pelo autor deste texto em um momento de despedida, melancolia e cansaço físico)

           
            Quando levantei da cama, por volta das nove horas da manhã, Heitor ainda dormia na cama de cima do beliche. Durante a madrugada anterior ficamos aperfeiçoando os arranjos de “Eu Vim de Longe” e “Veraneio”. Acordei e pus meu enorme fone de ouvido (modelo diadema) na cabeça e selecionei no meu MP3 a pasta “Milton Nascimento”. Heitor se assustou quando acordou e me viu parado em pé no meio do quarto com um fone de ouvido gigantesco na cabeça. Tomamos café e ensaiamos algumas músicas pra tocar nos bares de Carolina-MA.

            Após o almoço, arrumamos as malas, pois iríamos pra Carolina na madrugada de quarta pra quinta com sua família. Essa viagem estava combinada há tempos. Saímos pra gravar mais imagens pros clipes. Mais uma vez, acompanhados pela intrépida Sara, que ajudou bastante. Porém, o primeiro ponto de nossa jornada não envolvia, necessariamente, gravações, mas o essencial registro de letras na Fundação Biblioteca Nacional (FBN), com sede no Rio de Janeiro e com filial nesta cidade. Primeiro, precisávamos tirar cópias de nossos documentos pessoais, xerocar e imprimir a obra intelectual (o documento com as letras), mas por questões de deslocamento e tempo, decidimos passar primeiro no Escritório de Direitos Autorais da FBN pra saber que horas o escritório fecharia, pois já eram quase cinco horas da tarde. Fomos atendidos por um simpático segurança que nos informou, infelizmente, que o escritório fechava às 13 e 30 da tarde. Ele abriria de novo às oito da manhã do dia seguinte, ou seja, na hora em que estaríamos indo pra Carolina. Resumindo: se o escritório já estava fechado e nós iríamos viajar antes de ele abrir de novo, como registraríamos as letras?

            Graças à Sara, as soluções começaram a aparecer.

            Ela disse que poderia registrar pra nós no dia seguinte. Ótimo! Mas lembrei que ela faria um ato autoral pra terceiros. Então seria necessário uma Procuração. Perguntei se havia um cartório por perto. Ela disse que sim, e nos levou até lá. Chegamos, mais uma vez, em cima da hora. Eram 16 e 54 e o cartório fecharia às 17, segundo os cartazes fixados nas paredes. Mesmo assim, conseguimos entrar e ser atendidos por uma cansada funcionária que não entendeu muito bem minha explicação, mas entendeu quando Sara lhe falou. Foi então que a funcionária explicou que deveríamos arrumar uma Procuração e autenticar as cópias dos nossos RGs e CPFs, já que Sara iria registrar as letras em nossos nomes. Após alguma correria e momentos de tensão, conseguimos a procuração e autenticação das cópias dos documentos. Tudo isso por cerca de R$ 40,00. Isso era uma fortuna pra mim e Heitor no momento, sabe como é né? Universitários não são os cidadãos mais estáveis financeiramente. Gastamos tudo isso, mas ao menos estávamos seguros (ou quase) pra garantir que Sara registrasse tudo em nosso nome.

            Fomos a uma lan house e imprimimos as letras e um Requerimento, que devia ser preenchido e assinado. Feito isso, seguimos pra um shopping center pra comprar uma alça pro meu violão, pois eu esqueci minha alça em Goiânia. Que lamento senti ao comprar uma alça fuleira por R$ 20,00! Era a mais barata. Comprei-a porque já tinha uma muito boa, mas infelizmente, a abandonei sem querer.



            Após tantas operações financeiras, fomos andar pela cidade pra filmar algumas cenas pros nossos clipes. O ponto almejado era o Congresso Nacional. Até chegar a ele passamos pela Catedral de Brasília e pelo Museu Nacional. No caminho, encontramos dois amantes de Engenheiros do Hawaii. Bastou que eles vissem a camisa de Heitor (com estampa dessa banda) pra que eles pedissem que tocássemos uma música gessingeriana. Quando estávamos bem perto do Congresso, vimos um Brasília branco estacionado no meio do nada, nas quadras infinitas de Brasília, que percorremos com muito esforço (a pé) por toda tarde. Fiz algumas poses sensuais, comicamente, em cima do carro e pedi que Sara tirasse algumas fotos. De repente uma senhora apareceu, indo em direção ao Brasília e Heitor disse:

- Lá vem a dona!

            Eu pensei: “Impossível”. Mas estava enganado. Era a dona do carro mesmo, e por problema de visão ou por sorte ou pela escuridão que caía, ela não percebeu que eu estava fazendo graça no carro dela e deixou que tirássemos fotos com ele. Ela também disse que muitas pessoas faziam aquilo. É, era um carro simples no meio do nada, mas chamava muita atenção.


            Filmamos algumas cenas no Congresso, abaixo da fileira de postes onde as bandeiras de todos os estados brasileiros estavam hasteadas. O engraçado era que todas as bandeiras estavam iluminadas por pequenos holofotes que estavam no chão, mas a bandeira do Maranhão, nosso estado natal, era a única que tinha uma lâmpada com defeito, que não iluminava nada. Curioso, curioso...


            Depois gravamos no Museu Nacional, onde uma belíssima apresentação de slides sobre o Natal estava sendo projetada na cúpula. Foi espetacular. Concluindo as gravações, fomos a pé pra rodoviária do Plano Piloto. Sara pegaria um ônibus diferente do nosso. Assim que ele chegou, nos despedimos com um abraço e Heitor a acompanhou até dentro do ônibus. Eu estava fora do ônibus observando aquela amorosa e triste despedida de amantes. Odeio despedidas, mas pelo menos há um encontro atrás de cada despedida. O ônibus de Sara levou-a e eu e Heitor nos dirigimos pra fila do ônibus que nos levaria pra casa. Eram quase dez horas da noite e eu estava fisicamente cansado, ansioso pra ir pra Carolina e tocar, gravar, etc. E ainda melancólico com aquela despedida. Heitor disse algo como “Acabaram as férias aqui, agora só em Carolina”. Eu respondi algo como “É, o negócio vai ser puxado por lá”. Heitor respondeu com um semi-inexpressivo “É...” e após refletir por poucos segundos, me virei pra ele e disse:

-Acabou-se: É o começo de tudo.

Não quero me negar, mas eu não estava tão bem quando disse isso. Foi espontâneo. Contudo, não deixa de ser engraçado (ou sério). Assim que entramos no veículo e sentamos nos bancos, começamos a conversar sobre quem tocaria o quê nas gravações das nossas músicas. O cobrador ouviu e veio se sentar perto da gente. Disse que já tinha tentado tocar violão, mas não tinha conseguido aprender sozinho. Pediu algumas dicas, nós as demos e ele voltou pra sua cadeira e prosseguiu com seu serviço. Minutos depois chegamos ao setor onde Heitor morava e debaixo de chuva fomos sacar algum dinheiro no banco e em seguida, debaixo de uma chuva maior ainda, fomos pra casa.

Viajaríamos pra Carolina dentro de algumas horas.

Anexo: Durante a viagem

            A viagem foi longa, mas divertida. Com exceção de uma sensação de enjoo que cresceu em mim a partir de Palmas-TO e de dois pneus que furaram, tudo foi bem. Passando pelo Tocantins, paramos em um posto onde escutamos um velho gritar:

-Êêê... Calor da gota serena!!!

            Pronto, definitivamente eu estava voltando pro meu primeiro lar. Minutos depois, já na estrada propriamente dita, Sara nos enviou uma mensagem via celular dizendo que não precisou dos documentos do cartório pra fazer o registro das letras. Ou seja, gastamos R$ 40,00 sem necessidade. Maldita Lei de Murphy! Mas eu já esperava por isso mesmo... Porém, o registro deu certo e enfim, poderíamos expor nossas "filhas", nossas canções pra quem quisesse ouvir.  E é isso que vamos fazer. Com aquela notícia, me senti renovado e o enjoo até foi embora. 

Agora, que venham os shows em bares e as gravações de áudio.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Um Dia Como Hoje 02: O Diário de Um Duo Chamado VIAJANTE CLANDESTINO


VIAJANTE CLANDESTINO: O Segundo Dia de Gravação de Clipes

Por Thiago Damasceno

Brasília-DF, terça-feira, 20 de dezembro de 2011

            Acordei às cinco da manhã. Precisava ligar pra um táxi pra ir até a rodoviária e pegar um ônibus pra Brasília e colocar um último álbum de música no meu MP3: o “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd. Fundamental pra se ouvir deitado na cama, numa noite melancólica e solitária. Feito isso e carregando uma mala, uma mochila, um violão e um pedestal pra microfone, me sentia pronto pra gravar mais clipes e canções do Viajante Clandestino.

            O ônibus chegou na hora certa e a viagem foi tranquila... Até certo ponto. O rapaz que sentou ao meu lado curtia um som que eu gostava (espiei o visor do seu MP3), mas ele dormiu como se não houvesse amanhã. Nas poltronas do outro lado estavam sentadas duas garotinhas que deviam ter uns sete ou oito anos. Aparentemente inofensivas... Assim, esparramei-me no banco e ouvi meu MP3. Quando cheguei em Brasília, um infortúnio bateu calorosamente em minha porta.

            Ainda no ônibus, enquanto eu batia cabeça com o rock do Barão Vermelho, percebi que umas das garotinhas havia vomitado no corredor, ou seja, entre a poltrona dela e a minha. Soltei um leve sorriso ao ver o Toddy que ele havia tomado minutos atrás esparramado no chão com algumas migalhas de pão. Pensei algo como “Ainda bem que eu não estava com o pé esquerdo no corredor, senão, o vômito o teria atingido em cheio”. Pensei e olhei pro meu tênis esquerdo e estavam lá... Estavam lá as reminiscências, os fragmentos do vômito daquela meiga criatura. Refleti no quanto eu havia lavado tão bem o tênis (meu preferido) só pra viajar e aquela estranha, com seus sucos gástricos repulsivos, sujou uma parcela dele. Isso contribuiu pro meu desejo de sair logo do ônibus e chegar à casa de Heitor Lopes, meu parceiro. Veja que comecei as coisas, literalmente, com o pé esquerdo.

            Levantei-me da poltrona e fui ter com o motorista. Uma mulher que estava sentada perto da porta da cabine me ajudou a abri-la (todas são emperradas) e eu perguntei pro motorista se o ônibus pararia na Rodoviária do Plano Piloto ou na Interestadual (onde eu havia combinado com Heitor). Ele disse que pararia na Interestadual. Então desci na primeira rodoviária onde o ônibus parou. Mais por desespero (o fedor do vômito estava ficando cada vez mais azedo) do que por necessidade. Peguei meu violão e minha mochila e desci. Liguei pra Heitor e informei onde eu estava. De repente, a mulher que havia me ajudado a abrir a porta do motorista materializou-se na minha frente e disse: “Ei, essa rodoviária é a de Taguatinga, a Interestadual é a próxima!”. Ela tinha ouvido minha rápida conversa com o motorista e me ajudou naquele momento. Pura sorte minha! Voltei com tanta pressa pro ônibus que até esqueci de agradecê-la.

            Dentro do ônibus, mais uma vez enfrentei aquele vômito no chão. Em poucos minutos cheguei à Rodoviária Interestadual e me encontrei com Heitor e Sara, sua simpática namorada, que nos ajudou em todos os minutos das gravações e suportou com paciência nossas passagens de sons e discussões filosóficas e judiciais sobre nossas músicas.

            Passamos a tarde toda andando, gravando e tocando. O resultado poderá ser visto em alguns clipes que lançaremos em breve. O dia rendeu, mas teria rendido mais se uma chuva tranquila não impedisse mais gravações. Que falta faz um dia de sol maranhense...


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um Dia Como Hoje 01: O Diário de Um Duo Chamado VIAJANTE CLANDESTINO

Primeiro ponto de destaque: Uma das modas da Internet agora é ouvir e ver, ou seja, o vídeo.

Segundo ponto: Quer divulgar bem sua banda? Grave as músicas, mas também grave clipes. Portanto, o primeiro diário do Viajante Clandestino é basicamente sobre vídeo.

Terceiro ponto: Eu quase ia esquecendo que uma caminhada pela cidade pode ser muito divertida (e que você vê muitas pessoas quase se metendo em encrenca)

VIAJANTE CLANDESTINO: O Primeiro Dia de Gravação de Clipes

Por Thiago Damasceno

Goiânia -GO, sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

             Eu e Heitor (Viajante Clandestino) decidimos gravar os clipes de nossas canções em locações de Goiânia-GO, Brasília-DF e Carolina-MA. Antes de ir à Brasília pra esse trabalho, me encarreguei de gravar aqui.  As locações em que pensei servem para os clipes de “Vida de Cão”, “Cidades Solitárias” e “Veraneio”. Foquei a gravação no tranquilo Bosque dos Buritis e gravei o trânsito das avenidas que levam até ele.


            Pensei em adiar as gravações, pois o dia estava nublado e os chuviscos não paravam. E nenhuma das músicas precisava, necessariamente, da úmida melancolia de uma tarde chuvosa. Mas por voltas das três e meia da tarde, os chuviscos pararam, um sol tímido apareceu e algumas nuvens deram as caras. 

            No bosque, dei atenção às árvores, trilhas e lagos. O chão estava com barro e folhas molhadas e várias vezes quase escorreguei, mas as filmagens deram certo. Eu levava uma mochila com uma das minhas flautas e uma câmera digital emprestada. Nas mãos, levava o tripé do meu telescópio, que servia de tripé da câmera. Um quebra-galho e tanto! Enfim, você percebeu que o negócio é punk, bem ao estilo “Faça você mesmo!”. É o preço de uma produção independente. Mas não me importo com isso já que aprendi a tocar mesmo com bandas de rock em garagens mofadas, com instrumentos não tão bons e um equipamento de som pior ainda.

            Filmei boa parte da trilha e quando caminhei pro maior lago do parque, vi um grupo de amigos sentado em um banco. Duas moças e dois rapazes. Um dos rapazes falou:

- Moço, filma a gente!

            Eu dei uma desculpa esfarrapada e saí logo. Eles ficariam me olhando com atenção e sem pretensões, com um olhar de peixe-morto. Estavam fumando alguma coisa que os deixava pra lá da Lua.

            Quando filmei o último lago que queria registrar, escutei um monte de gritos juvenis. Parecia uma torcida vinda de um jogo cujo time foi campeão. Andei um pouco pela trilha e vi um bando de adolescentes literalmente tomando banho nos lagos. Eram cerca de 20 indivíduos, todos aparentando pertencer a algum ramo da classe média e com menos de 16 anos. Banhar nos lagos do bosque é expressamente proibido, segundo as placas do bosque e pelos guardas ambientais (que naquele momento, não estavam em lugar algum). O engraçado é que o lago é povoado por peixes, tartarugas e frequentemente visitado por patos, marrecos e afins. Ou seja, é cheio de urina e fezes desses animais. Além disso, a sujeira da água é visível a olho nu. Vai saber o que se passava na cabeça daquelas crianças ao banhar em tais lugares. Como diria Tiririca: “Só sendo minino mermo, minino!”.

            Eu já estava me preparando para as últimas fotos quando a chuva caiu de novo, mas muito mais forte. Fiquei sentado em um banco que estava embaixo de uns pés de bambu. Deu certo. Fiquei protegido. Pela primeira vez na vida as copas das árvores me serviram de abrigo pra chuva. Pensei que isso só acontecia nos filmes.

            O barulho da meninada cessou e pra não ficar parado olhando a chuva, pratiquei um pouco de flauta. Não tardou muito, a chuva parou e prossegui minha caminhada pelo bosque. Foi então que vi uma fonte de água que ficaria excelente pra “Veraneio”. Já estava preparando o tripé e a câmera quando vi que a meninada estava banhando lá. Praguejei, pois se eu esperasse que eles saíssem, talvez a chuva voltaria. Mas lembrei do zoom da câmera e resolvi usá-lo. Quando eu estava focando a câmera na fonte e filmando-a, percebi que os adolescentes estavam saindo de perto dela. Pronto! Filmei a fonte e continuei em frente. Eles também continuaram, mas escutei um deles cochichar sobre minha câmera. O grupo parou e a garota que estava gritando mais enquanto banhava no lago, veio andando na minha direção. A princípio, pensei que ela ia procurar alguma coisa que por ventura tivesse deixado cair. Mas ela se aproximou de mim. Seu corpo estava projetado em minha direção, porém, ela estava apreensiva. Me olhou nos olhos e disse com calma:

- Ow, deixa eu te perguntar. Cê filmou quando a gente tava banhando ali?

- Não, filmei não.

- Cê é repórter? É que eu sou filha de advogado véi, aí se meu pai vê alguma coisa disso aí, eu vou pro sal. – disse, apontando pra minha câmera. Peguei-a e mostrei a ela.

- Não, sou repórter não. Tô gravando uns clipes pra umas músicas minhas. É vídeo pessoal, mesmo. Nem filmei vocês, foquei na fonte oh.

            Mostrei-lhe a gravação e ela suspirou aliviada.

- Ah, tá. É que eu pensei que cê era repórter, aí se meu pai visse isso aí, eu ia pro sal. Bacana, gravar clipe. Então falow, véi.

            Disse isso e estendeu sua mão pra mim. Apertei em sinal de cortesia e esbocei um sorriso amarelo. Por quê? Por que ela estava banhando no lago! Assim que ela saiu, esfreguei minha mão no tronco de árvore mais próximo, mas não senti na mão nenhum cheiro de fezes de pato.


            Continuei minha caminhada e minhas fotos e os adolescentes continuaram a banhar nos lagos. A garota foi muito educada ao falar comigo, como se pode ver pelo diálogo. Estava mais preocupada do que com raiva.

            Voltei pra casa satisfeito, debaixo de chuva (que voltou, como vinha acontecendo durante todo o dia). Mas tinha na mochila uma câmera com filmagens e muitas ideias na cabeça. Próximo local de gravações: Brasília!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Música/Nova Banda: VIAJANTE CLANDESTINO

Viajante Clandestino

Por Thiago Damasceno

Goiânia – GO, sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

            Viajante Clandestino: Não, minha situação não é ilegal. Meus passaportes estão atualizados e em ordem. “Viajante Clandestino” foi o termo que eu e Heitor Gomes Lopes escolhemos pra nomear nossa dupla/banda, ou melhor, duo. Somos parceiros musicais de longa data e amigos de data mais longa ainda. Já passamos por várias bandas imaginárias e bandas reais chamadas Blackout, Final Doom e Cidade Muda. Ele participa do grupo de música infantil e teatro de fantoches Omalô, e eu já fiz Teatro por um ano. Enquanto ele anda se aprofundando em Teoria Musical, ando paquerando a Literatura, mas sem deixar de namorar a Música. Após idas e vindas, decidimos gravar nossas composições e nos autolançar na Internet pela primeira vez, com o álbum intitulado “Cantos Urbanos”.


            Nascidos em Carolina – MA, mas residindo em Goiânia e Brasília, criamos nossas canções tendo como influência nós mesmos, em primeiro lugar, e depois, em comum, Raul Seixas e boa parte das bandas do rock brasileiro dos anos 80, principalmente Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii. Gosto de ouvir músicas que foram lançadas muito antes de eu ter nascido, como a turma do Clube da Esquina, Secos & Molhados, O Terço e 14 BIS. Heitor escuta bandas mais atuais, como Falamansa, Cidade Negra, Charlie Brown Jr. e O Rappa. Influências internacionais? Ouço muito hard rock, Pink Floyd, Beatles, The Doors, Bob Dylan, Neil Young e Jethro Tull. Uma mistura e tanto!

            Desde os períodos escolares que eram chamados de “ginásio”, eu, Heitor e mais dois amigos resolvemos fundar uma banda. Escolhíamos os nomes, temas de letras, quem ia tocar o quê, etc. Tocar era o de menos. Eu mesmo entrei um pouco tarde nessa aventura. Quando fui aprender a tocar violão os outros já sabiam um pouco de quase tudo. Mas os rios da vida correm sem previsão e dos quatro membros “originais”, sobraram apenas nós dois. Um optou pelo sacerdócio católico e o outro está sintonizado em outras freqüências musicais. Considero nosso som, basicamente, do gênero folk rock. Brasileiro, claro. Usei os termos em inglês porque a música é mundial e misturada. Ao som de violões, percussão, flauta doce e gaita, cantamos nossas letras que falam sobre crítica social, amor, cidades grandes, cidades pequenas, migrações, trabalho, andanças noturnas, amizade, e muitos outros assuntos.

            Com a diversidade de temas musicais, arranjos, formas de cantar e o nome o duo, talvez não nos confundam com mais uma dupla sertaneja, mas o terreno é inseguro. Tenho certeza que um dia nos perguntarão se tocamos Jorge & Matheus, além das nossas músicas, claro.


            Acompanhe nossos trabalhos por este blog ou pela página Viajante Clandestino do Facebook (https://www.facebook.com/pages/Viajante-Clandestino/143634502413017).  Dando corda à informação instantânea e em grande quantidade da Internet, sempre postarei diários de nossas gravações, fotos e vídeos. E como sempre, será um prazer trabalhar com música, divulgá-la e escrever pro meu público fiel.

Viva a música! Até breve!
            

domingo, 18 de dezembro de 2011

Crônica: Carolina

Carolina

        Há dias tenho sonhado com Carolina. Há dias tenho sentido saudade. Não só dela, mas também de todas as pessoas que ficavam à nossa volta. Ultimamente, andar sem sua companhia tem me doído os pés. Cada detalhe dela permanece vivo na minha memória. Às vezes tenho lembranças ruins, às vezes boas, às vezes tediosas, às vezes espetaculares e muitas vezes engraçadas. Fato é que com ela, já sofri de insônia e já passei noites bem dormidas. Nosso relacionamento é uma espécie de amor-ódio.

        Em um certo momento do meu passado, foi chegado o dia de ir embora. Velhas coisas novas me esperavam, mas como esquecer aquela que por tanto tempo me viu crescer? Carolina me viu cair e chorar quando criança, me viu assistir a invasão japonesa dos animes, me viu ler de HQ´s da Turma da Mônica aos romances clássicos. Carolina foi meu primeiro beijo, meu primeiro amor, minha primeira transa, meu primeiro “fora”, meu primeiro divórcio. Carolina leu meu primeiro poema, minha primeira letra e ouviu minha primeira canção. Carolina também me ensinou a falar sobre a existência alheia, a falar sobre a minha existência, a pensar no que é pequeno e no que é grande, a pensar no que é irrelevante e no que é de suma importância e principalmente me ensinou a pensar como se o pensamento não existisse: pensar por pensar. Por enquanto ficarei longe, indo vê-la de tempos em tempos, revivendo assim, as aventuras e desventuras do meu passado e presente.

        Entretanto, como um viajante mal-criado, como um rebelde ortodoxo teimoso, pretendo morrer onde nasci, pra fechar todo um ciclo que se iniciou em um certo mês de setembro. Pretendo repousar nos braços de Carolina quando estiver velho, assim como sentei no seu colo quando era menino.

        Carolina tem seus problemas. E quem não tem? Carolina tem suas qualidades. E quem não tem? Peço perdão aos viajantes, aos “pés na estrada”, aos “desenvolvidos”, aos “realistas”, aos filhos mal-criados, aos “progressistas” e aos que pensam que sonham em ir longe demais, pois meu futuro será regresso. Já aprendi que não há lugar como o lar em que se nasce.


Por Thiago Damasceno à sua cidade natal, uma cidadezinha qualquer com casas e mulheres entre mangueiras.
       




segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Arte: Teatro

Coisas Que Aprendi Com O Teatro

Por Thiago Damasceno

          Este texto é um breve comentário sobre alguns aprendizados que adquiri durante duas oficinas de Teatro realizadas no segundo semestre de 2009 com os professores João Carlos de Oliveira e Carmen Machado e no primeiro semestre de 2010 com Guido Campos Correa, ambas no SESC de Anápolis-GO. Não discutirei conceitos, técnicas ou obras. Talvez eu esclareça algumas coisas a uns, inspire outros e ajude outros a pensar sobre o Teatro ou Arte em geral. Vale ressaltar isso, que ao se falar sobre uma categoria da Arte, também se fala um pouco de Arte no geral.
         
Em setembro do ano passado foi feita uma propaganda na faculdade onde estudo (e em muitas outras) sobre uma oficina de Teatro que abriria naquele mês, nas dependências do SESC. Desde a adolescência eu tenho inclinação para Arte. Ao ver a proposta de Teatro, pensei: “Vou experimentar, por que não?” Entra aí um ponto fundamental no mundo artístico, principalmente na contemporaneidade: experimentação. Fundamental não apenas para o Teatro, mas para a existência. Experimente, invente, faça, brinque. Não é proibido. Gostou? Ótimo. Continue. Não gostou? Tente outra coisa. Para que um personagem saia devidamente representado é preciso que o ator se doe, se aventure no seu papel. É por isso que todos podem ser atores, mas é preciso estudar, se esforçar, dedicar seu tempo, sua mente, seu corpo e sua voz à interpretação.


Quem assiste a uma peça e acha tudo muito lindo e perfeito, pensa que é sempre assim, mas o processo não é exatamente desse modo. Criar, dirigir, encenar, enfim, trabalhar uma e em uma peça dá muito trabalho, além de ocupar tempo (de uma forma excelente, claro). A Arte gera um cansaço físico e emocional, porém, o esforço vale a pena. Nada melhor do que ver uma plateia aplaudindo uma peça que você participou. Considero que a maior recompensa de um artista é ter sua obra vista, ouvida, lida, comentada e aplaudida.

            Segundo Marlon Brando, a “profissão” mais antiga do mundo é a representação, um conceito essencial para a Arte, que tem muito da noção de “recriar o real”. E sempre é bom lembrar que esse conceito de “realidade” é questionável. Brando também fala que a representação não ocorre apenas nos palcos, mas no dia a dia. Um político representa para ganhar votos, uma criança faz beicinho aos pais quando quer alguma coisa e muitos outros exemplos podem ser percebidos. Ele até se pergunta se há muita diferenciação, no campo da representação, entre os atores profissionais e os “atores do cotidiano”.
      

Além de fornecer uma base para pensar a Arte, o Teatro ensina a se ter mais consciência de si mesmo e expressão, tanto vocal quanto corporal. A tradição religiosa judaicocristã ocidental condena o uso do corpo. Alguns setores religiosos e conservadores da sociedade chegam até a censurar a dança e ver com maus olhos qualquer coisa que tenha relação com um corpo que não esteja “devidamente” vestido. Considero tais medidas um exagero e uma censura desnecessária. O corpo fala, se expressa, envia mensagens. Negar isso ou ao menos tentar fugir desse fato é horrível. Conhecendo a potencialidade corporal e trabalhando seu corpo, uma pessoa se sente mais integrada consigo mesma. Não é à toa que ioga significa “união” e essa prática oriental milenar pode ser entendido como um sistema de meditação feito através do corpo, auxiliando muito nas artes cênicas. O corpo é muito importante para o Teatro, pois é movimento e, com o perdão do clichê, movimento é vida.  Cecília Meireles canta em Canção Excêntrica: Ando à procura de espaço / para o desenho da vida / Em números me embaraço / e perco sempre a medida”.



Esse exagero tem a ver com o que a plateia verá. Imaginemos uma cena em que uma namorada ciumenta dá um tapa no seu namorado. Se essa cena for vista fora dos palcos, ela será interessante, porque os seres humanos adoram isso. Contudo, se essa cena for feita no palco, será preferível que seja exagerada, caso a peça seja de comédia, ou então mais trágica, caso seja uma tragédia ou drama. O que quero dizer é que entendo que o Teatro precisa ter um certo grau de anormalidade, de estranheza. Não faz sentido você sair de casa para ver algumas pessoas em cima de um palco fazendo coisas normais. Nossas emoções são muito reprimidas pelos nossos costumes e pela cultura em geral e os exageros das artes ajudam a liberar muitas emoções, tanto para quem faz quanto para quem assiste ou ouve. Exemplos disso são nossas lágrimas com filmes, músicas ou livros, ou estrondosas gargalhadas ao apreciar uma obra cômica. Talvez por isso seja tão agradável ver filmes, peças, quadros e ler livros, pois eles ajudam a libertar emoções que estavam presas no seu próprio portador.

            Como disse, este é um texto breve sobre o tema. Quem passou pela mesma experiência ou algo parecido, deve concordar comigo na totalidade ou em partes. Quem ainda não passou pelo Teatro, não basta apenas ler sobre, deve-se fazer. Também aprendi, logicamente, a me relacionar melhor com as pessoas e a consequência disso é uma porção de amizades que fiz.

Desejo boa sorte aos aventureiros da Arte com a divertida e velha saudação teatral: Muita merda pra você!





domingo, 4 de dezembro de 2011

Crônica - Eu Apenas Não Disse


“É melhor um bom amigo que cem parentes”
(Provérbio italiano)

Eu Apenas Não Disse

Por Joana Bezerra,
Crônica especialmente dedicada à Lu

Goiânia, 18/10/10

        Amo viver. Por mais que eu pense sempre na possibilidade, odeio a idéia de morrer, mas às vezes a existência se mostra tediosa, cansativa, angustiante. As surpresas mudam as coisas para melhor ou para pior. No meu caso, mudou para melhor, porque hoje me deparei com uma surpresa excelente.
       
        Uma amiga minha, vinda do estado da música excelente, Minas Gerais, me ligou dizendo que chegava dentro de poucas horas. Ela se atrasou, mas chegou. Veio à minha casa, fomos procurar uns livros para comprar, conversamos sobre várias coisas, comemos pizzas e fomos ao cinema. Uma programação que começou na metade da tarde e foi quase até a meia-noite.
       
        Na volta, enquanto a acompanhava até o seu prédio, fiquei pensando no que dizer a ela. Eu queria dizer que ela deu uma espécie de sopro nas minhas narinas, me fez sentir amada. Fez questão de me ligar, me ver, sair, conversar. Isso não acontece todo dia, principalmente nesses dias tediosos onde nem as canções preferidas nos animam e a arte se torna apenas arte. Nesses dias tediosos a saudade de um passado mais real que idealizado povoa meus sentimentos. Além disso, os crimes estão nos jornais, o crack circula pelas ruas, os políticos usam a religião nas campanhas, a raça humana se mostra com o pé na lama, enfim, esses dias em que se perde sete vidas a cada minuto. Podemos criticar, podemos rir para não chorar, mas nem só de críticas e gargalhas se faz um dia. Também quero lembrar da amizade. Por mais que o mundo caminhe para o caos, a amizade ainda existe nos povoados, pequenas cidades, capitais e repentinamente, em qualquer lugar e tempo.
       
        Eu queria dizer a ela tudo isso e mais um pouco. Dar-lhe um abraço, um beijo na testa, um olhar no seu olhar. Não sei quando nos veremos de novo. Eu queria dizer, mas não disse. Trocamos poucas palavras na porta do seu prédio e nos abraçamos. O que falamos foi uma espécie de breve adeus, pois dentro de poucos dias ela estaria de volta à sua cidade. Fiquei pensando quando teríamos um dia especial como hoje, magnífico e belo na sua simplicidade. Espetacular, assim... Meio que de repente, sem mistério. Eu queria dizer “obrigado”. Eu queria dizer, mas não disse. Ela entrou. Não sei se não falei por que ela estava com sono, ou se eu estava com sono, ou se não falei por timidez ou vergonha. Eu apenas não disse.
       
        Voltei para casa caminhando, observando cada rua. O ar noturno das cidades cheira a medo. Não aconteceu nada. Um rapaz me parou perguntando onde pegaria o ônibus para Senador Canedo, uma cidade vizinha. Os ônibus não estavam mais passando àquela hora. Entrei no meu prédio. Deixei o cara lá. Não o conhecia. A desconfiança falou mais alto que a moral solidária cristã. Fiquei pensando em um trabalho que eu teria para explicar amanhã na aula de Português, no belo filme que vimos, no sujeito de Senador Canedo que ficaria nas ruas, enfim, fiquei pensando em todo o mundo lá de fora, mas preferi o mundo controlado e seguro do meu quarto e decidi escrever tudo que eu queria dizer para ela, mas não disse. Uma pessoa, em alguns momentos, pode mudar seu dia e sua maneira de ver as coisas. Foi isso que ela fez comigo.
       
        Eu queria dizer tudo isso, mas não disse. Será que fui covarde? Medrosa? Será que todas as coisas que se pensa devem ser ditas? Será que alguém achará tudo isso uma tolice ? Será que alguém achará essa declaração linda? Filosófica? Poética? Amorosa? Fraternal? Egoísta? Não sou a dona dessas respostas.