ThiagoDamasceno: dezembro 2010

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Poemas

Para Minha Amada II

Não se esquece um grande amor,
mas se supera um grande amor
E um grande amor só é superado
com um amor  maior ainda

Nenhuma resposta que diga o contrário é válida
É preciso um amor maior ainda

Passam-se os anos, as estações, poemas e canções
e um grande amor se assemelha a um porto seguro
que dá conforto ao navio que vem de uma tempestade

Mudam-se as ruas, as casas, rostos, corpos, nomes
e até amores, mas a paixão permanece inalterável
Qualquer tempo e distância são inválidos
É preciso um amor maior ainda

Enquanto esse amor não chega
a paixão se converte em saudade
entre as quatro paredes de um quarto silencioso

Portanto, não se esquece um grande amor,
mas se supera um grande amor
Se supera com um amor maior ainda

Por isso, minha amada,
serei teu eterno apaixonado
até o dia em que um amor maior ainda
me roube de ti

Serei teu eterno apaixonado
até o dia em que um amor maior ainda
me  tire da tua eternidade

Thiago Damasceno 

O Minuto Que Antecede O Primeiro Beijo


Corpos próximos

Próximos como queríamos

Quentes como jamais sonharíamos

Calafrios traçando rotas

Nos nossos mapas corporais



O teu olhar no meu

O desvio do meu olhar ao teu

Como se meu olhar não fosse para ti

Como se o encontro fosse por acaso



Meu riso apressado

Querendo morrer afogado na tua saliva

O mais rápido possível



Minha cabeça gira

Parece buscar um ponto de fuga

Que te leve comigo



Fazes o mesmo

Sendo que um é o reflexo do outro

E cada um é um espelho



Até que a distância mata a timidez

E o que era receio

Vira desejo

Em poucos dias

Será necessidade



Os dentes, as línguas, os líquidos bucais

O ar em plena liberdade

Rosto contra rosto

Suor contra suor

Atrativo imposto



O minuto que antecede o primeiro beijo

Tem ritos e mitos

Que levam à mesma crença


Thiago Damasceno 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Música

CIDADE MUDA     CIDADEMUDA    SE IDADE MUDA    CIDA DE MUDA    OU SIMPLESMENTE CIDADE MUDA

(Damasceno+Lopes+Meirelles+Noleto+Silva+Etc)

Por Thiago Damasceno

         Para quem me conhece e para quem não me conhece pessoalmente, informo que estou há quase uma semana na minha terra natal: Carolina-MA. Terra de sol, calor (pense no calor!) água, festa, bagunça e (pode crer) de rock and roll.
       Após um ano sem pousar por aqui, percebi algumas mudanças e alguns padrões. No fim das contas, vê-se que as coisas mudaram, mas as mudanças são as mesmas. Juntei-me com alguns novos velhos amigos e criamos um grupo musical: o CIDADE MUDA. Nome padrão, mas como você pode ver acima, bem polissêmico e crítico, devido ao atual contexto social e político da cidade.         
         Estamos procurando por um lugar para tocar, mas sabe como é: fim de ano, muitos eventos, burocracia para conseguir uma licença para música ao vivo até tarde da noite, etc... O engraçado é que para demais eventos banais, corriqueiros e ricos em confusões, consegue-se tudo. Fazer o quê né?! Mas vamos conseguir um local, aguardem... será uma apresentação inédita em Carolina. O repertório inclui Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Titãs, Zeca Baleiro, piadas, interpretações de poemas e muito mais!

"Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver." (Bertold Brecht)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Crônica

O Grande Amigo
Por Átila Douglas

              Hoje meu cachorro morreu. Estou triste, sensível. Tão sensível como um iceberg rente ao aquecimento global, sensível como um policial sem colete no Morro do Alemão. Meu cachorro não era só um cachorro, era O Cachorro. Mais que um animal: um amigo, um companheiro fiel, que independente do meu humor, estado civil ou cheiro, lá estava ele, abanando seu rabo pra me receber e me “adorar”.


Um filme que relata essa idéia é “Sempre Ao Seu Lado”, com Richard Gere e Joan Allen, com direção de Lasse Hallström, lançado em 2009. Trata da fidelidade de Hachi, o cachorro de Parker (Richard Gere), que cria um grande laço de lealdade entre ambos, e mesmo após a morte se seu dono, Hachi o espera em seu ponto de chegada: uma estação de trem, durante 10 anos.
Após esse fato surgiu-me a idéia desta crônica, revendo alguns conceitos dos seres humanos ditos racionais.
Atualmente o que anda contando na sociedade é o ter, e não o ser. Pessoas se sentem donas de outras e não medem esforços pra “passar por cima” das outras. Barbaridade é o nome disso meus caros amigos.
Ao acordar, já que agora estou de férias, ligo minha tevê para apreciar os graciosos programas matinais, mas em quase todo instante há um Plantão da Globo nos informando a entrada da polícia em um local, a prisão de um determinado meliante, ou mesmo a apreensão de certa quantia de drogas. Para os mais fanáticos em televisão, um desses plantões seria a morte da incrível Dercy Gonçalves, mas isso não vem ao caso.
Canso-me da tevê e vou ler um jornal. A mesma coisa, só que em letras. Vou acessar a Internet com seus inúmeros sites divertidos, apaziguadores. Porém, ao abrir meus e-mails, adivinhem o que leio?! Quem acertar ganha uma bala.
Isso meus caros, significa que as coisas simples da vida que a vovó dava tanta ênfase foram esquecidas ou perdidas. Os amores sinceros, as amizades verdadeiras estão cada vez menos comuns, e sem falar no tempo, que se transformou em inimigo. O relógio, antes se ser um informador de horas, é também seu patrão.
O lucro (melhor dizer capitalismo) é o objeto mais importante, mais valioso e mais afável do ser humano moderno. Nada é concitado, todos são cavalos com cabresto de todos e o que mais me deixa chateado é que nem sempre percebemos isso.
Certo dia, estava atravessando a Avenida Goiás, no Centro da linda Goiânia, quando quase presenciei um atropelamento de um cachorro. O pobre só não foi esmagado pela máquina porque correu cerca de um metro antes do carro lhe acertar. Vendo isso, percebi o tamanho da preocupação desse animal, quase nula. Resolvi bater um papo com ele.
Ao interceptá-lo, indaguei sobre o ocorrido, e o motivo dele não ter saído antes do quase fato mórbido. Sua resposta foi simples: “não há motivos pra preocupações”. Fiquei pensativo com essa informação e puxei uma conversa com meu novo amigo. Ele me falou de como enxergava o ser humano, de como nossa raça é imoral e suja, sem perceber um lindo pôr-do-sol, uma chuva (quando não é ácida) simples e outras belezas naturais.
Disse mais, que sua raça se ligava entre si, até mesmo por telepatia. Seus amigos eram sujos, fedidos e famintos, mas ele não se importava, pois quando ele mais precisava, lá estavam eles pra lhe socorrer. Ofereceu-me aulas pra aprender a ser mais cachorro do que ser humano, mais simples, menos empedernido e insensato com os outros, para eu dar mais valor ao cachorro que tenho em casa e outras coisas interessantes.
Quando eu ia dizer sim ao seu pedido, um carro me atropelou. Acordei assustado, com meu celular despertando, era hora dos afazeres, hora de viver a realidade rápida e cruel.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Comentando Letras

         Aproveitando o clima musical proveniente da postagem anterior, comentarei duas letras de uma das minhas bandas preferidas: Ira! As letras são das canções Flores Em Você e Dias De Luta, bem conhecidas. Ambas são do segundo álbum do Ira! chamado Vivendo E Não Aprendendo, de 1986. Esse álbum fala basicamente de juventude e amor ao som de ótimos arranjos, melodias belíssimas e letras bem pensadas. Na época de sua gravação os integrantes queriam uma sonoridade semelhante à do grupo inglês The Jam, o que causou tensões com o produtor Liminha. Coloquei o link para download do álbum e das canções no final do texto. Boa leitura! Aguardo comentários, réplicas, tréplicas, etc...

Por Thiago Damasceno
Flores Em Você
(Edgard Scandurra)

De todo o meu passado
Boas e más recordações
Quero viver meu presente
E lembrar tudo depois

Nessa vida passageira
Eu sou eu, você é você
Isso é o que mais me agrada
Isso é o que me faz dizer
Que vejo flores em você

        Flores Em Você tem o arranjo de um quarteto de cordas e um violão tocado por Edgard Scandurra (guitarrista da banda) que acompanha o vocal de Nasi. Nos meus primeiros pensamentos sobre Flores Em Você, pensei que ela se tratasse apenas de uma dócil canção de amor para uma segunda pessoa. Ainda hoje concordo que é para uma segunda pessoa, mas não da forma como antes, pois a expressão “flores em você” leva consigo mais de um sentido.
        A elegia é uma forma de poema que apareceu no Classicismo, escola literária que nasceu na Europa do século XVI. A elegia lamenta a morte de alguém. Vejo Flores em Você quase como uma elegia, só não é uma elegia no sentido mais comum porque não lamenta a morte de alguém, pois o sujeito poético (quem fala na letra) parece se conformar com a morte de um ente querido.
        Tal sujeito faz uma análise da sua existência nos primeiros versos “de todo o meu passado, boas e más recordações”, ele quer se apegar ao breve presente e revivê-lo posteriormente “quero viver meu presente e lembrar tudo depois”. A morte é constatada na parte “nessa vida passageira”. Scandurra também usou essa expressão na canção Vida Passageira, que é claramente uma elegia. O falecimento de um ente querido é observado em “vejo flores em você”, ou seja, o corpo de um indivíduo num caixão, com flores e tudo, mas o sujeito poético parece se sentir bem com essa morte “eu sou eu, você é você, isso é o que mais me agrada...” Uma espécie de “ainda bem que não fui eu”. Esse sentimento de tranqüilidade com a morte de uma pessoa querida só seria possível se a pessoa morta soubesse que iria morrer e quando a morte chegasse, ela estaria satisfeita e em paz com a vida, tranqüilizando a si mesmo e os demais. O falecido não estaria necessariamente feliz, mas saberia que respirou numa vida feita de bons e maus momentos que geraram “boas e más recordações”.        
        Quem morreu (na história da letra) deveria ter idade avançada, pois não acredito que algum jovem morreria satisfeito com a sua existência. Poderia ser um tio, avô ou avó do próprio Scandurra ou do sujeito poético, já que nenhum autor é necessariamente o narrador de seus escritos. Suposições e mais suposições, viagens e mais viagens...
        Eu disse no parágrafo anterior que um jovem não morreria satisfeito com sua existência. Essa idéia nos leva ao próximo comentário, logo abaixo.

Dias De Luta
(Edgard Scandurra)

Só depois de muito tempo fui entender aquele homem
Eu queria ouvir muito, mas ele me disse pouco
Quando se sabe ouvir não precisam muitas palavras
Muito tempo eu levei pra entender que nada sei
Que nada sei...

Só depois de muito tempo comecei a entender
Como será meu futuro como será o seu
Se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho
Se hoje canto esta canção,o que cantarei depois?
Cantar depois...
O quê?!

Se sou eu ainda jovem, passando por cima de tudo
Se hoje canto esta canção, o que cantarei depois?
Cantar depois...
O quê?!

Só depois de muito tempo comecei a refletir
Nos meu dias de paz, nos meus dias de luta...
Se sou eu ainda jovem, passando por cima de tudo
Se hoje canto esta canção, o que cantarei depois?
Cantar depois...
O quê?!
       
        Corre a lenda entre os fãs do Ira! que Scandurra compôs essa canção para seu pai “se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho”. Vejo que ela fala sobre a arrogância de grande parte dos jovens que pensa que podem qualquer coisa “se sou eu ainda jovem, passando por cima de tudo”. Todos podem muito, claro, mas nem todos conseguem o que querem. O sujeito da letra demorou muito “pra entender aquele homem” e “só depois de muito tempo comecei a refletir”. Na ânsia juvenil de alguns em viver intensamente cada momento, ou simplesmente “curtir a vida”, não há muito tempo gasto para pensar. Acredito que a letra fala também de quem é imediatista e no fim das coisas, quando tudo acaba, fica sem saber o que fazer. Essa metáfora consta em “se hoje canto esta canção, o que cantarei depois?”.
        O sujeito da letra se encontra inexperiente e cheio de dúvidas e aprendendo, depois de muito tempo, com o que disse “aquele homem”. O indivíduo está então em conflito, conflito que vejo expresso principalmente na introdução instrumental da canção. As palavras da letra falam muito, mas o arranjo não é mudo.
       
Flores Em Você:


Dias de Luta:


Álbum Completo:




Obs: Peguei o link do álbum em http://www.camaleaodownloads.com/