ThiagoDamasceno: setembro 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Crônica (Escrita no dia 19/09/10)

        
Eventos Piadísticos do Capitalismo II
Cinema

Por Thiago Damasceno

         Agradeço aos camaradas Lucas Sá e Átila Douglas pela participação na discussão de Eventos Piadísticos e aos meus pacientes leitores por toda atenção e tempo gastos nestes escritos.
         O número de Eventos Piadísticos do Capitalismo é tão grande que esta crônica dissertará apenas sobre os Eventos ocorridos nos cinemas. Quem não gosta de um bom e velho cineminha? Sozinho ou acompanhado? Acompanhado é melhor, principalmente se, como um casal, se pensa em fazer mais coisas do que assistir a um simples filme. No escurinho do cinema, muitas coisas ficam claras... Muito se escuta e pouco se vê. Conversas no ouvido, abraços, trocas de carícias, beijos e por aí vai... Como já disse anteriormente, se escuta, mas não se vê. Escuta-se o deslize molhado de bocas, estalos de línguas, risos abafados, suspiros (prolongados ou não), palavras de afeto semi-inaudíveis e alguns dizem que até gemidos prazerosos... Quem saberá o que rola entre um casal na frente das telas? Servindo como um local de flerte e “pegação”, o cinema seria, nas palavras de Átila Douglas, um “motel compartilhado”, principalmente os cinemas adultos.  Embora isso não ocorra sempre, é um fato.
          Mas nem só de namoro e sexo vive o Cinema. Tal ambiente também é propício para um encontro entre amigos. Me disseram certa vez, que um determinado número de amigos resolveu assistir a uma obra da Sétima Arte. Um deles tinha 12 anos e o filme escolhido tinha classificação etária para espectadores com no mínimo, 16 anos. O garoto até tentou passar para a sala, mas foi impedido por um funcionário. Um garoto mais velho, uma espécie de líder do grupo, foi conversar com o gerente. Não conseguiu nada. Não conseguiu até ameaçar devolver o dinheiro dos ingressos. Depois dessa ameaça, liberaram a passagem para o garoto de 12 anos.
         Para fechar esta crônica cinematográfica com ao menos um Oscar, escreverei sobre a lei que proíbe entrar nas salas dos cinemas com lanches. Sempre há as plaquinhas: “Proibido entrar com comida e bebida”. A piada disso é que você pode entrar com mochila e ninguém inspeciona a mochila. Eu mesmo já fiz isso com um bando de amigos. Colocamos uma coca-cola de 2 litros e um pacote do clássico Milhopan numa mochila. Não fomos barrados, nem investigados e aproveitamos o banquete assistindo Velozes & Furiosos. É a lei sem fiscalização, coisa para inglês ver.
         Como o capitalismo se reproduz mais do que rato de porão e as piadas, mais do que episódios de Malhação, aguarde mais crônicas da série Eventos Piadísticos do Capitalismo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Crônica (Escrita no dia 10/08/09)

Eventos Piadísticos Do Capitalismo

Por Thiago Damasceno

    Além de exploração, altos lucros, desigual distribuição de renda, propagandas e modos de ser, o capitalismo também exerce influência no que eu chamo de Eventos Piadísticos. Acontecimentos cotidianos que mais parecem piada do que coisas que deveriam ser levadas a sério (não que as piadas não devam ser levadas a sério). Escreverei sobre três desses eventos que percebi até o momento atual da minha existência.

    Na tarde do dia 09, fui comprar um tênis para mim. Preferi o modelo Rainha da segunda loja pesquisada, tanto pelo tênis, quanto pelo preço. Eu pedi à vendedora um tênis para corrida e esse encaixou-se perfeitamente nos meus interesses. Um tênis básico para se correr em alguns dias da semana, para eu não ficar sedentário. A vendedora que me atendeu tinha sumido e eu experimentei o dito cujo. Saí andando pela loja com ele. Andei, andei e andei e um vendedor me disse que não era permitido andar com o tênis. Deve ser porque algumas passadas na cerâmica deterioram a sola. Ele disse que eu deveria ficar apenas em cima do tapete. A loja devia ter 300 metros quadrados de área e o tapete tinha 1 metro de perímetro povoado pelos pés dos possíveis futuros compradores, que também experimentavam seus possíveis futuros tênis. Ou seja, nos tapetes das lojas de tênis nunca há espaço para deslocamento. Quer dizer que, para experimentar um tênis para corrida, eu preciso ficar parado com ele? Um tênis para corrida é mais uso que estética. Roupas é que são mais estética que uso. Roupa sim, se experimenta parado. Tênis, não.

    O segundo evento dá mais indigestão do que riso. Sabe os restaurantes self-service por quilo? Pois é, colocamos comida no prato, pesamos e recebemos uma comanda com o valor do alimento. O engraçado está na observação em letras minúsculas no final do cupom. Aquela que se lê com uma lupa ou com um microscópio. O aviso é basicamente esse: Em caso de perda deste, o usuário deverá pagar o valor de... Esse valor é x. Depende do restaurante. Acontece que sempre é muito alto para uma refeição, ou duas, ou até mais. E por pessoa. A maioria dos restaurantes cobram 50 ou 80 reais. Agora sem brincadeira, já vi uns restaurantes que cobram 200! Tudo para compensar o valor que deveria estar na sua comanda perdida. E comanda individual! Mas veja bem, será que um ser humano em perfeito estado de saúde é capaz de comer 50 reais de comida no quilo? Eu, que sou conhecido como “barriga sem fundo” não como nem metade. Talvez um pouco mais... E 80? Alguém poderia comer 200?

    O último evento e não menos comum apontado por mim acontece no famoso SAC. Quando queremos cadastrar nossos celulares em promoções ou corrigir certos equívocos, ligamos para o Serviço de Atendimento ao Consumidor das operadoras e esperamos, esperamos... Mas, para não dizer que a espera é em vão, eles sempre colocam umas “musiquinhas”. Aquelas coisinhas horríveis. Será que aquilo é passatempo para alguém? Algumas são músicas do Beethoven ou do Mozart transformadas em bips digitalizados, outras são harmonias desconhecidas, no fim, são apenas guinchos eletrônicos, pior que o barulho dos já ultrapassados mini-games. Será que alguém gosta de escutar aquilo? Aqueles sons ridículos se propagam no ar enquanto o consumidor fica com cara de sono ou raiva, nos piores casos.

    Por enquanto, achei esses três Eventos Piadísticos do Capitalismo, quem encontrar mais, por favor, me avise, assim, quem sabe, poderemos produzir um texto mais gostoso, e se você perder a comanda, eu não vou cobrar 1 milhão de reais.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Crônica (escrita no dia 06/08/09)

Os Repetitivos Teletubbies

Por Thiago Damasceno

    Esta crônica aborda um assunto que era considerado tabu entre os meninos dos Anos 90, mas que agora soa muito engraçado. O conhecimento desse delicado tema veio de uma conversa com um amigo. Nós chegamos a seguinte conclusão: a maioria dos meninos assistiram aos Teletubbies e não admitiam na época! Ou então, em alguns casos, assistiam e admitiam com muita vergonha! Hoje, esses caras, dos mais afeminados (independente da opção sexual) aos mais masculinizados encaram isso como uma coisa engraçada. Admito que assisti a muitos episódios dos Teletubbies, mas na época eu não era nem doido de assumir isso. Os colegas na escola iriam me chamar de “mulherzinha” ou “baitola”, fora os risos. E foi assim com muitos caras, com meninas acredito que não. Nunca foi considerado tão ridículo uma menina ver programas bem infantis como os Teletubbies. Com os meninos foi e é diferente.

    Lembro muito bem. Se o moleque tivesse uma TV no quarto, na hora dos Teletubbies ele entrava, trancava a porta dando duas voltas completas na chave, fechava as janelas e cortinas, colocava um fone de ouvido na TV e ia assistir calmamente sua atração infantil. Tudo no mais extremo sigilo! O quarto do moleque era mais guardado que a hipotética Área 51! Caso ele não tivesse TV no quarto, só assistiria quando estivesse sozinho em casa, mas assistiria! Ao menos para matar a curiosidade. O engraçado é que quase não havia moleques na rua enquanto estava passando o programa Teletubbies. Coisa semelhante aconteceu quando muitos garotos dormiam tarde enquanto passava a libidinosa minissérie da Rede Globo Presença de Anita. Os moleques eram verdadeiros zangões atrás do mel, ou melhor, da Mel! O fato pior era que às vezes, rodinhas de meninos conversavam sobre Teletubbies e programas estilo “Xuxa & Seus Baixinhos”, zombando dos mesmos. Os caboclos que zombavam eram os mesmos que assistiam. Tudo isso pra disfarçar o que faziam quando ninguém estava olhando... Como diria Tiririca: “Só sendo minino mermo, minino!”

    Veja bem caro leitor... as crianças nunca foram e não são bobas. Só queria lembrar que quase todos que eram crianças nos saudosos Anos 90 também assistiram aos Ursinhos Carinhosos e às Chiquititas. Esses eram mais fáceis de assumir porque não eram tão bestas. Já Teletubbies, meu Deus! Era coisa para criança que ainda ia nascer! Palavras repetidas um bilhão de vezes: “lanche gostoso! lanche gostoso!” “é hora de dar tchau! É hora de dar tchau!” Um narrador que dava sono! Um sol que era a cabeça de um bebê! Isso e mais aquele mundo hipercolorido era psicodelia liberada para criancinhas! Olha o perigo! Fora o absurdo de que o programa consiste em quatro extraterrestres ensinando as crianças terráqueas a viver na Terra! Vai entender né?!

    Pois bem, aqui está o recado, ou melhor, a lembrança. Tempos depois surgiu uns Teletubbies mais toscos, mas nem por isso menos engraçados, que quem estudou em Carolina-MA no primeiros tempos dos Anos 2000 conheceu, mas isso é assunto para uma outra crônica...

domingo, 5 de setembro de 2010

Poemas

A Felicidade

Muitos pensam que a felicidade vem depois
Ou que um amanhã sempre cai bem
Vivem correndo atrás de uma imagem
Inalcançável
Que nem entrou na pista de corrida...

... e se esquecem do asfalto...
... e vendem o agora a preço de banana

Thiago Damasceno

Poemas

Os sentidos de um poema não cabem no papel
Um poeta não se define com uma certidão de nascimento
Poemas não afogam a sede de ninguém
Poemas não mastigam a fome de ninguém

Poemas não movem montanhas...
Mal movem o lápis no papel

Thiago Damasceno

Aprecie

O tempo de um poema é finito
O poeta o encerra ao dá-lo por concluído
Mas esse tempo renasce
Enquanto o poema estiver sendo lido

Um artista é um assassino
Ele mata sua obra ao terminá-la
Ao leitor ou observador
Cabe a ressurreição, a interpretação
Não com a tal razão ou estudos literários
Mas com emoção

Thiago Damasceno

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Crônica (Escrita no dia 21/08/10)

    O Senhor Poderia Se Retirar, Por Favor?

Por Thiago Damasceno
   
    Passei a manhã e a tarde do dia 21, sábado, em Anápolis, pois houve um curso de Noções de Paleografia e Diplomática no campus da UEG, onde eu estudo. Como eu não gostaria da galinhada que seria servida no restaurante do campus, fui a pé a um restaurante próximo. Passei por um e corri ao ver o preço do quilo: R$ 12,00. Meu bolso universitário não suportaria tal facada! Como esse restaurante era num hotel, pensei que era mais caro que o restaurante ao lado, já que coisa normal é explorar turista, ou seja, os hóspedes do hotel. Entrei no outro restaurante satisfeito com meu raciocínio de “restaurante de hotel é sempre mais caro” e fiz meu prato. Pesei. Olhei o preço na comanda: R$ 14,89! Meu bolso universitário chorou, mas não havia volta. Sentei e comi. Dei um alto grau de valor a cada grão de arroz. O atendimento foi péssimo. Esperei três dias para pedir uma coca-cola de 1 litro. Que me deu trabalho...

    Enquanto eu saboreava com gosto minha cara comida cara, a mulher que estava no caixa olhava pra mim com olhos ligeiros, olhos que ansiavam pelo pagamento. Após alguns minutos meu prato estava vazio. A garrafa de coca-cola, não. Uma atendente veio e perguntou: “Posso retirar seu prato?”. Eu já previa aquilo. Uma vez, uma conhecida minha, dona de restaurante, disse que aquilo não se fazia, pois era o mesmo que mandar o cliente ir embora. Concordo. Mas como não estava com saco para expor essa teoria para a atendente, disse que ela podia levar o prato.

    Minutos depois, minha garrafa estava vazia e restava apenas meu copo cheio de coca com um fatia de limão desmaiada no fundo. Eu saboreei meu último copo de refrigerante com os olhos e a imaginação, depois com a boca e o aparelho digestivo. Outra atendente veio e perguntou se poderia levar a garrafa de coca-cola. Vê se pode... Novamente, para não dar briga, eu disse que sim, mas pensei: na próxima vez ela vai perguntar: “O Senhor poderia se retirar, por favor?”, tipo, “já que não está comendo mais nada e está terminando sua bebida, suma de vista”.

    Intrigado com tais acontecimentos resolvi pagar logo minha conta e voltar para o academicismo da UEG. Paguei e a moça do caixa me deu um cartão no qual estava escrito com grandes letras maiúsculas vermelhas um LIBERADO. Pensei: “um cartão para eu mostrar para o segurança negro, careca, alto, forte e com cara apática que fica na saída do restaurante. Na saída havia uma velhinha com seus 150 anos que colocava os cartões numa pequena cesta e sorria um “muito obrigada”.

Crônica (Escrita no dia 20/08/10)

A Cervejinha de Sexta-Feira

Por Thiago Damasceno

    Não bebo cerveja. Gosto de ser brasileiro, mas não gostaria de ser um “brasileiro clichê”, aquele que samba, que joga bola em todos os finais-de-semana, que grita “gostosa!” para qualquer gostosa que passa na rua, que não perde um capítulo da novela das oito (que na verdade começa às nove) e que bebe uma cerveja sempre que possível (ou quando não deve), mas nem por isso eu deixarei de falar sobre a cerveja. Essa bebida envolve até quem não a toma.

    Numa tranqüila noite de sexta-feira fui à 1ª Grande Revirada Cultural, um evento realizado na calçada do histórico Grande Hotel, na Avenida Goiás, centro de Goiânia. Caso alguém desconheça o local, farei uma breve descrição do lugar. A calçada do Grande Hotel é larga e abriga um palco, onde os músicos se apresentam. Há mais uma calçada do outro lado da avenida, obviamente. A Avenida Goiás é cortada por uma pequena praça, que alguns chamam canteiros, com suas flores, grama, postes, bancos e pontos de ônibus.

    Chegando à uma zona do canteiro próxima ao palco, para apreciar uma boa música brasileira (samba e choro), sentei num banco entre dois vendedores de bebida. Esses vendedores colocaram seus produtos em grandes caixas de isopor remendadas e reforçadas com as populares fitas dúrex. Para conservar a temperatura das latinhas de cerveja e garrafas de água mineral, colocaram sacos com gelo dentro das caixas. Gente aparentemente de origem humilde, tentando ganhar uma renda a mais. Nada mais normal que isso. Pois bem, a maior parte do público estava perto do palco e vinha constantemente comprar cerveja.

    Numa certa hora da noite uma mulher reclamou com os vendedores, dizendo que eles não tinham autorização para vender no local, apenas as barracas de artesanato tinham. Essas barracas pagaram uma determinada taxa... Tava explicada a fúria da garota! Fiquei vendo aquela singela discussão. O vendedor que estava mais próximo de mim expressava no vermelho dos seus olhos toda a angústia e dor da opressão. A mulher disse que alguém iria até lá recolher os produtos. Ela saiu com passos decididos. Para melhorar a situação, um possível futuro cliente protestou contra o preço da latinha, disse que ia comprar com um cara “ali” que vendia mais barato. Mesmo assim o vendedor não cedeu. Depois ele ainda teve que agüentar dois caras que pediam pedras de gelo. Ele não deu afirmando que tinha que usar o gelo para seu comércio. Estava com toda razão. Algumas pessoas são folgadas a ponto de comprarem cerveja no meio da rua e se darem ao luxo de pedir pedras de gelo, só faltaram pedir limão e desconto de 50%! Eu achava cômica aquela situação do vendedor e queria conversar com o mesmo, servir-lhe de ombro amigo. Para isso, tentei puxar conversa. Falando algo como: “vendedor escuta desaforo né?”. Ele respondeu, mas falava mais com o nada ao redor do seu corpo do que comigo.

    Passados alguns minutos, a mulher revoltada veio e mais uma vez ameaçou recolher tudo. Disse que eles deveriam vender as bebidas no outro lado da rua. Então percebi que a rua é pública até você pensar em vender alguma coisa. A partir daí as prefeituras podem cobrar impostos até por pensamentos capitalistas. O engraçado é que o fato de os vendedores irem para o outro lado da rua não impediria que as pessoas fossem comprar cerveja. Ficaria até mais incômodo, já que elas teriam que atravessar a rua. O que seria do samba sem a cervejinha? Além do mais, os expoentes da 1ª Grande Revirada Cultural falam que estão mostrando a cultura brasileira, claro, nossa música é parte da nossa cultura, mas se esquecem que a “cervejinha de sexta-feira” é tão cultural quanto o samba e o choro. No fundo, eles só querem partilhar dos lucros dos vendedores, e não estão errados quanto a isso, já que brasileiro que é brasileiro gosta do de partilhar as coisas com o próximo.